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AGRICULTURA ORGÂNICA E SAÚDE
Agricultura natural
A natureza ofereceu à semente um ambiente perfeito
Simon Piggott
O agricultor japonês Yoshikazu Kawaguci utiliza técnicas naturais e herdou o manto do pioneiro Masanobu Fukuoka. Localizada ao sul de Nara, antiga capital do Japão, sua pequena fazenda fica em um povoado para onde estão mudando habitantes urbanos. A velha casa de pau-a-pique onde vive com a mulher, a mãe e três filhos está
rodeada de casas modernas e uma estrada movimentada atravessa um de seus campos.
Antes da entrevista, Kawaguchi guiou-nos por sua fazenda. O arroz havia sido colhido e as cebolas recentemente transplantadas. Diferentemente da terra nua de seus vizinhos, os campos de Kawaguchi estão cobertos por um tapete verde. Ele arrancou um tufo de capim revelando uma grossa camada de matéria orgânica em decomposição. Era isso, disse, que fornecia toda a nutrição e umidade necessária à vida de suas colheitas.
Na horta, fileiras e mais fileiras de cenouras, rabanetes, repolho, brócolis e verduras folhosas crescem no meio da grama - um cenário de abundância e harmonia. Andamos ao lado de canais rasos de drenagem cavados para levar o excesso de água de chuva. Fora esses canais, a terra não é cavada nem o capim é retirado.
Mais tarde, em sua casa, tomamos chá acompanhado de bolinhos caseiros e conversamos sobre sua vida, filosofia e técnica.
Qual é a história de sua família?
Por muitas gerações, os membros de minha família eram arrendatários. Eu, o filho mais velho, nasci em 1939. Meu pai morreu quando eu tinha 11 anos. Quando terminei a escola, tomei o seu lugar na fazenda da família. Naquela época, a agricultura mecanizada e os agroquímicos estavam surgindo. Logo fertilizantes e pesticidas, tratores e outras máquinas dominavam a agricultura. Em minha juventude, usei esses métodos durante mais de 20 anos.
Por que passou para a agricultura natural?
Fiquei fisicamente doente por causa da maneira como vivia e trabalhava. Espiritualmente, eu havia perdido qualquer esperança no futuro. Era como bater contra uma parede. Não sabia o que fazer. Foi nessa época que li o livro "Fukugo no osen" (Contaminação conjunta), de Sawako Arioyoshi. Esse livro foi um marco na história do ambientalismo japonês, com impacto no Japão similar ao livro "Primavera Silenciosa", no Ocidente. Aquele livro me ajudou a compreender onde estava o meu erro. Vi, pela primeira vez, que meu método de agricultura prejudicava o meio ambiente e destruía a vida.
O que é agricultura natural?
Cada semente que plantamos tem sua própria vida. Deixamos essa vida se desenvolver assim como é, respeitando o seu processo de crescimento natural. A natureza deu à semente um ambiente perfeito; interferimos o mínimo possível. Isto quer dizer,que não aramos a terra nem removemos os outros tipos de plantas e insetos do campo.
Onde foi que a agricultura natural se originou?
No Japão. Foi iniciada por algumas pessoas que perceberam que a agricultura orgânica ocidental não oferecia uma solução para a preservação do meio ambiente e seus recursos. Sua filosofia e prática foram desenvolvidas por três pessoas: Masanobu Fukuoka, Hirashi Fujii e Mokichi Okada.
Quais são as diferenças entre a agricultura orgânica e a agricultura natural?
Embora os agricultores orgânicos evitem substâncias artificiais, usam todo o tipo de aditivos, tais como composto e esterco, pesticidas orgânicos etc. Além disso, quando aram o solo, freqüentemente usam máquinas que exigem muita energia artificial - não só o combustível usado para operar a máquina, como também a energia necessária para fabricá-la. Já a agricultura natural é isso mesmo, totalmente natural. Usa apenas o que se encontra no campo.
A agricultura natural pode ser praticada na Europa ou na América, onde os campos são muito maiores do que no Japão?
Sim. Pode ser praticada em qualquer lugar.Em campos maiores, vão necessitar de mais gente. Porém, quando se considera o número de pessoas empregadas na fabricação de fertilizantes, pesticidas, maquinário etc., o tempo total gasto para produzir safras pelo método natural é menor.
Como a pessoa que quer praticar a agricultura natural vai começar?
Não deve arar o solo. Não deve usar composto, fertilizantes orgânicos ou quaisquer aditivos. Não deve considerar a grama nativa como erva daninha que precisa ser removida, nem deve considerar os insetos como predadores que precisam ser exterminados. Eles não são inimigos, são essenciais à saúde do solo.
Existem algumas variações segundo as diferenças do solo e do clima. Por exemplo, o método de plantar as sementes. Em alguns casos, elas podem ser espalhadas. Em outros, precisam ser plantadas no solo. Em outras circunstâncias, talvez precisem ser criadas como mudas e protegidas até o transplante. Às vezes, pode ser necessário cortar a grama ao redor quando ela ameaça a jovem planta.
Quanto os japoneses estão interessados em agricultura natural?
O interesse aumentou nos últimos cinco anos, mas o número de agricultores dedicados em tempo integral à agricultura natural é muito pequeno. A maioria das pessoas interessadas é constituída de pequenos proprietários que plantam para consumo próprio. Eu estou em contato com treze grupos que trabalham em diversas partes do Japão. O maior, ao redor de Osaka, é formado por mais de 300 pessoas que plantam em campos nas montanhas.
Você acha difícil viver em harmonia com o mundo moderno?
Na minha juventude, eu estava muito preocupado com as contradições que via em volta. Hoje aceito o fato de que nasci neste mundo e pronto. Talvez não seja possível mudar o mundo, mas podemos mudar a nós mesmos. Podemos tentar estabelecer nossas vidas naquilo que é natural e bom
Alimentar o mundo
com agricultura sustentável
Em janeiro, Sua Alteza Real, o Príncipe Charles, patrocinou uma entrevista coletiva da imprensa no Palácio de St. James, para endossar uma nova pesquisa, mostrando um sistema agrícola revolucionário que pode ser a solução para alimentar 800 milhões
de pessoas que estão passando fome nos países subdesenvolvidos.
Argumentos a favor da agricultura de alta tecnologia são progressivamente aceitos sem questionamentos e as possíveis conseqüências a longo prazo - para o meio ambiente e a economia - não estão recebendo atenção suficiente, afirmou o Príncipe. Um dos argumentos mais comuns, apresentados por aqueles que estão a favor dos transgênicos, é que são necessários para alimentar o mundo. Onde, porém, as pessoas estão passando fome, a falta de alimento é raramente a causa subjacente. Há necessidade de criar meios de vida sustentáveis. Precisamos optar por uma abordagem mais equilibrada. A agricultura sustentável mostra o que pode ser alcançado.
A pesquisa feita pelo Professor Jules Pretty e seus colegas na Universidade de Essex, financiada pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional, Greenpeace e Pão Para o Mundo, coletou dados de mais de 200 projetos em 52 países cultivando alimentos em mais de 29,8 milhões de hectares e encontrou resultados surpreendentes.
"Fomos verificar se sitiantes conseguem melhorar a produção de alimentos com tecnologias de baixo custo e investimentos localmente disponíveis; se conseguem fazer isso sem causar danos ambientais adicionais", disse o prof. Pretty. "Descobrimos que, em 4,42 milhões de pequenas lavouras praticando agricultura sustentável em 3,58 milhões de hectares, a produção média de alimentos por domicílio aumentou 73%. Para os 146.000 proprietários em 542.000 hectares - cultivando colheitas como batata e mandioca - o aumento foi de 150% e, em sítios maiores, a produção total aumentou 46%".
"A agricultura sustentável cresceu na última década do domínio de alguns entusiastas para um vasto movimento, abrangendo governos e o setor privado", disse o prof. Pretty. "Ela é barata, usa tecnologia localmente disponível e freqüentemente melhora o meio ambiente. Acima de tudo, ajuda as pessoas que precisam dela - lavradores e suas famílias - que constituem a maioria das pessoas famintas do mundo."
Uma agricultura mais sustentável precisa fazer o melhor uso de bens e recursos naturais como insumos funcionais. Ela faz isto integrando processos naturais e regenerativos como a rotação de culturas, a fixação de nitrogênio, a regeneração do solo e a introdução de inimigos naturais dos predadores no processo de produção de alimentos. Ela minimiza o uso de pesticidas e fertilizantes que prejudicam o meio ambiente, a saúde dos lavradores e dos consumidores, além de serem caros. A nova técnica, amplamente difundida, é o cultivo sem arar a terra. Na Argentina, um terço das roças nunca vêem um arado.
A agricultura sustentável produz, ao mesmo tempo, alimentos e outros bens para as famílias no campo, melhora sua autoconfiança e faz uso produtivo do capital social — permitindo que as pessoas trabalhem juntas para resolver problemas comuns, como predadores, bacias hidrográficas, irrigação e proteção contra alagamentos, condições da paisagem, gerenciamento florestal e de créditos.
Um bom composto:
coração da agricultura vegana
Maribeth Abrams-McHenry
Um solo saudável está cheio de microrganismos vivos que precisam ser alimentados e substituídos para nos abastecer de alimentos: o composto faz tudo isso.
O composto consiste de plantas decompostas, reduzidas aos ingredientes elementares por bilhões de organismos no solo. O resultado é uma substância úmida e esponjosa chamada húmus, que é o sangue vital da terra produtiva. Adicionado ao solo, o composto rico em húmus dá estrutura e textura ao solo, retém a umidade, ajuda a drenagem, libera pouco a pouco os nutrientes, atrai as benéficas minhocas e suprime doenças transportadas pelo solo.
Um bom composto é uma substância contendo 2/3 de matéria marrom (folhas secas, plantas mortas, agulhas de pinheiro e palha) e 1/3 de matéria verde (grama, poda que não contém madeira, flores orgânicas murchas, restos de frutas e hortaliças). Intercalamos 2,50 cm de terra entre as camadas de matéria verde e marrom para "pôr o composto em ação". Essas coisas são tão fáceis de encontrar! Se você mora em uma casa com gramado e algumas árvores, então tem tudo o que necessita.
O horticultor vegan evita qualquer produto animal, como esterco, casca de ovo, farinha óssea ou de peixe e sangue seco. O composto vegan inclui frutas, hortaliças, grãos e legumes. Tudo que sobrar no final do dia pode ser adicionado ao composto, como borra de café, folhas de cenoura, casca de melancia ou os restos de uma lasanha de tofu. Não se recomenda incluir óleo ou alimentos muito açucarados, porque prejudicam a terra. Grande quantidade de sal pode até atingir a água subterrânea.
O agricultor orgânico Eliot Coleman mostra que feno pode fornecer um bom composto, mas a época em que é cortado é fator importante para a sua decomposição. Umas pitadas de argila finamente triturada ajudam na sua decomposição.
Agricultores vegans podem usar terra devoluta - separada da terra usada para cultivar alimentos - como fonte de nutrientes e matéria orgânica. Como exemplo, temos bosques ou gramados. Quem cultiva sua própria horta encontra em sua propriedade tudo que é necessário: grama, folhas mortas e outros detritos.
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Chegou a hora de uma agricultura
baseada em plantas
Maribeth Abrams-McHenry
Este artigo não procura desencorajar vegetarianos e vegans na promoção de alimentos orgânicos, pois o cultivo por meios
químicos é prejudicial à Terra, aos animais e à nossa saúde.
Existem, porém, passos que vão além da cultura orgânica tradicional, mais compatíveis com os conceitos vegetarianos.
As pilhas de composto e os canteiros na fazenda de Will Bonsall indicam que ele se dedica à agricultura orgânica. Porém, uma observação mais cuidadosa revela não apenas a falta de sacas de fertilizantes químicos, mas também a ausência de qualquer adubo animal. Nos últimos 20 anos, Bonsall tem se dedicado ao cultivo vegan, um termo (e método) desconhecido até para muitos vegetarianos. Bonsall avançou ainda mais no cultivo orgânico evitando o uso de subprodutos de origem animal.
Por que os agricultores orgânicos utilizam fertilizantes de origem animal, como estrume e subprodutos do abatedouro? Esses produtos têm valor fertilizante, pois contêm nutrientes essenciais como nitrogênio, fósforo e potássio e a matéria orgânica do estrume ajuda a melhorar a estrutura do solo. Esse tipo de fertilizante sempre esteve disponível nas comunidades rurais a custo baixo ou zero e agricultores que também criam animais têm seu próprio esterco em abundância. Horticultores e agricultores orgânicos consideram a decomposição de produtos animais um componente natural do processo orgânico.
Embora agricultores orgânicos sejam encorajados a obter estrume em "fazendas orgânicas", isso não é requisito para obter o certificado de produtor orgânico. Os horticultores, às vezes, conseguem obter adubo orgânico quando residem em áreas rurais, mas muitos compram adubo de animais criados em confinamento não orgânico.
O aumento explosivo da criação de gado em confinamento tem provocado um aumento paralelo de dejetos de origem animal e esse excesso constitui um grande problema. Nos Estados Unidos, o gado produz 105 toneladas de estrume por segundo e o nitrogênio desses dejetos é convertido em amônia e nitratos que se infiltram na água de superfície e subterrânea, contaminando poços, rios e cursos d'água.
"O fazendeiro que cria animais em confinamento tem uma quantidade enorme de estrume da qual precisa se livrar e ele deveria arcar com todos os custos relacionados à poluição do solo, da água e do ar", diz Scheps. "Se essas despesas forem pesadas, talvez ele se dedique a algo menos prejudicial para o meio ambiente como, por exemplo, cultivar couve" afirma.
E o que dizer do estrume da vaca que vive em um estábulo tradicional? Para que uma fazenda de gado leiteiro seja comercialmente viável, precisa manter muitos animais em um espaço limitado e, portanto, terá problemas com o estrume. Embora as condições não sejam tão ruins como no confinamento, as vacas leiteiras são forçadas a manter os ciclos de gravidez / lactação e os bezerros machos são geralmente vendidos aos produtores de carne de vitela logo após o nascimento. Quando não são mais consideradas produtivas, a maioria das vacas leiteiras é abatida para que sua carne e couro sejam aproveitados. Quando usamos estrume dessas fazendas, ajudamos a explorar os animais.
Mas, como obter nitrogênio?
A primeira pergunta que muitos fazem quando querem fazer horticultura sem produtos animais é "Como podemos compensar a falta de estrume?" Isso corresponde a perguntar a um vegetariano como ele obtém proteínas em quantidade suficiente.
Fazer a pergunta "como compensar" significa inferir que os produtos animais como comida ou fertilizante são o que há de melhor. Os vegetarianos sabem que são muitas as razões pelas quais a alimentação baseada em vegetais é superior à alimentação a base de carne e, para os vegans, os motivos éticos são óbvios. Muitos, porém, desconhecem todos os outros benefícios da adubação usando somente plantas.
Fertilidade e uso da terra
A fertilidade do solo não vem dos animais, vem das plantas na base da cadeia alimentar. A nutrição humana também não tem origem animal. Quando uma pessoa come carne, obtém nutrientes daquilo que serviu de alimento para o animal. Obter nutrientes dessa forma não só é nocivo à saúde, como também constitui uma maneira ineficiente de utilizar energia e recursos. A carne, por exemplo, não contém nada das fibras que o animal comeu e seu teor de proteína é elevado demais. Da mesma forma, quando o capim é "filtrado" através de uma vaca, quase todo o nitrog ênio é perdido pela urina.
Se colocarmos o capim destinado a alimentar uma vaca diretamente na pilha de composto, obtemos todo o nitrogênio necessário, além de outros nutrientes que não são encontrados no estrume. Usando o capim, vamos obter mais matéria orgânica do que com o estrume e, portanto, mais fertilizante. Colher a fertilidade na fonte é uma maneira bem mais eficiente de obter nutrientes.
Eliot Coleman vem usando adubo orgânico há mais de 40 anos, sendo que nos últimos 15, usou métodos vegans. No início dos anos 90, Coleman recebeu uma verba para pesquisar a produção em escala comercial usando composto vegetal em vez de adubo animal. Por meio da pesquisa, Coleman determinou o número de hectares de feno necessários para fertilizar um hectare de plantas alimentícias. Descobriu que a relação é de um hectare para produzir o feno por um hectare para produzir alimentos. Isto no Maine, EUA, onde o solo é rochoso e difícil de arar.
Se fosse usado adubo animal em vez de capim, o espaço necessário para fertilizar aquele hectare usado para cultivar alimentos precisaria ser quatro vezes maior — considerando o espaço para o pasto e a forragem para os animais. A pastagem excessiva tem levado à erosão e à formação de desertos nos quatro cantos do mundo. E a imensa quantidade de fertilizantes e agrotóxicos, usados na produção de alimentos para os animais, acaba poluindo águas superficiais e subterrâneas.
Agricultores orgânicos que dependem das vacas para obter fertilizantes precisam de muito mais terra do que aqueles que usam métodos vegans. À medida que a população aumenta, depender de animais no cultivo vai levar à derrubada de mais florestas e à conseqüente destruição do habitat da fauna para dar ainda mais lugar a pastos e cultivos para animais. Mais de 25% das florestas tropicais da América Central já foram destruídos para criar pastos para o gado.
Mais razões para adotar métodos vegans!
O interesse de Coleman pelo cultivo vegan não se deve ao vegetarianismo, pois ele não é vegetariano. Seu interesse provém da praticidade de cultivar seu próprio fertilizante e não ter que depender de fontes externas para obter adubo.
O estrume de gado confinado muitas vezes tem preço elevado devido aos custos de tratamento, embalagem e transporte. Não deixa de ser irônico que o estrume seja caro, apesar do excesso! Outro motivo para o preço elevado do estrume é a demanda crescente, porque o público vê o adubo animal como necessário. Como o interesse em horticultura e agricultura orgânica está aumentando, a demanda por adubo "orgânico" poderá vir a exceder a oferta e afetar os preços atuais.
Solo equilibrado, plantas saudáveis
Muitos agricultores acreditam que aplicar adubo em excesso pode provocar um desequilíbrio no solo, plantas doentes e problemas com predadores. Coleman e Scheps descobriram que adubos vegans não causam os problemas com pragas que afetam as hortas onde empregam adubo orgânico não vegan.
"A superalimentação do solo, além de ser um desperdício, pode ser prejudicial" escreveu o agricultor vegan David Phillips, Ph.D. "Colocar uma camada grossa de adubo faz com a planta o mesmo que o excesso de comida faz com o corpo humano — crescimento super estimulado, durante certo tempo, depois o desequilíbrio que causa condições patológicas."
O agricultor pode optar entre controlar ou aprimorar a natureza. As pessoas podem matar ervas daninhas com um herbicida. Entretanto, esse produto químico também destrói os microrganismos encontrados no solo e as plantas ficam mais suscetíveis a doenças. Para aprimorar a natureza, usamos barreiras físicas que evitam ervas daninhas (por ex.: cobertura verde, uso de energia solar), extirpamos as ervas daninhas ou simplesmente convivemos com elas.
Mesmo hortas com solo equilibrado podem ter insetos indesejáveis, mas nessas hortas seus predadores naturais acabam aparecendo. Se nada for feito contra os pulgões, eles atrairão as joaninhas que deles se alimentam. E, às vezes, esses insetos podem até se tornar úteis: há um tipo de lagarta que se alimenta das folhas da salsa, porém, mais tarde, a larva se transforma em uma borboleta que poliniza as plantas.
As plantas que crescem em solo equilibrado nem sempre estão livres de imperfeições. Quando se trata de aceitar falhas, existe uma questão de ordem econômica. Quem planta sua própria horta não se importa com alguns furinhos na folha de alface, mas quem cultiva para fins comerciais vai considerar essa alface imprópria para venda.
Fazer a rotação de culturas, produzir cobertura, evitar monoculturas e produtos químicos, adicionar constantemente matéria orgânica são fatores críticos para uma horta bem equilibrada.
Questões de saúde
O estrume da maioria dos animais domésticos aloja doenças intestinais e parasitárias e pode conter resíduos de antibióticos. Animais ruminantes, às vezes, abrigam a bactéria Escherichia coli 0157:H7 no intestino, que pode ser transmitida às pessoas através das fezes.
Mesmo os defensores do estrume concordam que, principalmente o estrume, cru, constitui uma ameaça à saúde e aconselham que seja manuseado com cuidado.
O futuro do método vegan
"Hoje, o principal problema da agricultura vegana", diz Bonsall, "é a dificuldade em encontrar informações a respeito". No mundo inteiro, muitos agricultores utilizam os métodos vegans (mesmo sem conhecer o termo!), mas não há comunicação entre eles. O escritor inglês Geoffrey Rudd cunhou o termo "vegan" há quase 50 anos e existem diversos livros sobre o assunto, mas muitos agricultores que usam apenas fertilizantes a base de plantas não conhecem essas obras.
Muitos vegetarianos que cultivam sua horta com certeza usam métodos vegans. Entretanto, no mundo inteiro, é impossível encontrar esses produtos nos supermercados, porque as pessoas os cultivam apenas para consumo próprio.
Há vinte anos era difícil encontrar produtos orgânicos, mas agora já os vemos por toda parte, atendendo à maior procura. As coisas boas merecem que se lute por elas. Precisamos colocá-las em prática e também informar a população. Quem sabe, um dia, encontraremos couve e pepinos marcados com um "V" de vegan no supermercado.
Crise na monocultura da soja
Avizinha-se uma grave crise na monocultura da soja. Insumos em alta. A nova crise do petróleo contribui significativamente para isto. Os insumos químicos utilizados na produção de soja são, em sua grande maioria, derivados de petróleo. A energia básica usada na produção de soja é o óleo diesel. A soja é petro-dependente e neste momento da história, isto significa aumento de custos.
Preços em baixa
Os preços internacionais voltaram aos seus patamares históricos de 10 a 11 dólares a saca de 60 quilos. A China, nova grande compradora, está com grandes estoques acumulados e aumentando a produção interna. A demanda mundial está, portanto, estagnada e equilibrada. Só uma grande quebra de safra, em algum país grande produtor, alteraria este quadro. Maior oferta que consumo. Produção crescendo e se expandindo, combinada com consumo estagnado, gera excesso de oferta, que rebaixa imediatamente os preços.
A produção mundial prevista para este ano (2004) é de 220 milhões de toneladas. O consumo gira em torno de 200 milhões de toneladas. Os estoques mundiais estão sob equilíbrio.Um bom planejamento estratégico recomendaria produzir menos soja. Embalado pela alta artificial dos preços nos últimos dois anos, o Brasil vai aumentar sua produção.
Migração de consumidores
A massiva produção de soja transgênica no mundo está provocando migração de consumidores. Cresce o número dos consumidores, em todas as partes do mundo, que optam por produtos - entre eles o óleo vegetal - não derivados de soja. Cresce o consumo de óleo de girassol, arroz, milho e oliva. A combinação destes quatro fatores é nitroglicerina pura nas projeções e nas ambições do setor.
Endividamento
Soma-se a isto o excessivo endividamento dos produtores de soja. Provavelmente mais uma conta pública para todo o povo brasileiro pagar, quando a crise estourar e os grandes agronegociantes do mercado da soja pedirem anistia das dívidas. O Rio Grande do Sul será o estado mais afetado pela crise.
Aqui a produtividade está bem abaixo da média nacional. A soja gaúcha é 90% transgênica e será a última a ser comprada num cenário de excesso de oferta. Os royalties de R$ 1,20 por saca de soja transgênica colhida pesarão ainda mais nos custos. A Monsanto agradece.
A má qualidade da soja gaúcha
É péssima no mercado internacional a fama da soja gaúcha. Produzida com sementes trangênicas contrabandeadas e sem controle de qualidade, misturadas com sementes tratadas com agrotóxicos, que já resultou na devolução de vários navios e fez o prêmio-porto, embutido nos contratos de venda antecipada de soja, dar prejuízos aos vendedores pela primeira vez na história do mercado da soja. Tudo por causa da irresponsabilidade das lideranças do agronegócio gaúcho, capitaneados pela Farsul e pelos veículos de Comunicação do Grupo RBS.
Dizia-se à boca grande, pelo interior do Rio Grande do Sul, que os chineses comprariam qualquer soja, desde que o grão fosse amarelo. Aí os chineses descobriram grãos vermelhos (sementes tratadas para plantio com garboxim), fizeram análises laboratoriais e rejeitaram também soja amarela com partículas contaminadas com fungicidas, provavelmente resultado das pulverizações próximas ao período da colheita.
No mercado internacional, quem descuida da qualidade perde clientes. Os pretensos e prepotentes líderes do agronegócio gaúcho já comprometeram, em passado recente, o mercado de carnes com a aventura da zona livre de aftosa sem vacinação e agora comprometem o mercado da soja com a transgenia e com os grãos envenenados. Alternativas existem. Necessitam de mudanças drásticas na política agrícola nacional. Não possíveis com o Ministro Roberto Rodrigues e a turma da Monsanto (Amauri Dimarzio entre outros) a frente do Ministério da Agricultura.
As alternativas não significam o abandono da produção de soja, mas a combinação da produção de soja com outras culturas, aumentando a diversificação e eliminando os efeitos nefastos da monocultura. E também implementação gradativa e consistente da produção de soja orgânica. Esta não depende dos insumos químicos e está livre do poder das multinacionais dos agrovenenos e de boa parte dos efeitos danosos da petro-dependência da produção de soja.
Hortas orgânicas
Durante décadas, Cuba usou agrotóxicos e
adubos químicos na agricultura.
Hoje, quase toda a agricultura é orgânica,
mostrando como alimentar um mundo faminto.
Após a revolução cubana em 1959, quando Fidel Castro chegou ao poder, Cuba entrou em período de rápida modernização. A agricultura cubana foi industrializada, dominada por amplas monoculturas de produtos para o mercado (principalmente açúcar e fumo, mas também banana e café).
Os Estados Unidos impuseram um embargo econômico à Cuba comunista, forçando a pequena nação a depender do comércio com a União Soviética e outros países do bloco comunista. Condições comerciais generosas, oferecidas pela União Soviética, permitiram que Cuba vendesse seu açúcar por cinco vezes o preço de mercado e comprasse petróleo e defensivos agrícolas a baixo custo. Cuba dependia da importação de alimentos — comprando 100% do trigo, 90% do feijão e 50% do arroz consumido. Milhares de tratores foram comprados para substituir os tradicionais arados puxados por bois.
O colapso da União Soviética em 1989 foi um desastre para Cuba. O cancelamento da ajuda soviética significou que 1.300.000 toneladas de adubo químico, 17.000 toneladas de herbicidas e 10.000 toneladas de agrotóxicos não podiam mais ser importadas e o combustível disponível para a agricultura diminuiu drasticamente. Em um ano, Cuba perdeu mais de 80% de seu comércio e os preços do açúcar caíram. Pela primeira vez desde a revolução, o povo cubano enfrentou fome e desnutrição.
Para fazer face a essa crise, o governo e povo cubanos vêm trabalhando durante a última década com os recursos que restaram: gente, terra, animais, conhecimento e criatividade.
Milhares de pequenos lotes de terra dentro e nos arredores da capital, Havana, foram distribuídos a moradores que os transformaram em hortas produtivas. Em 1998, já havia mais de 8.000 sítios urbanos e hortas comunitárias cultivados por mais de 30.000 pessoas.
Hoje, essa agricultura urbana supre boa parte da necessidade de alimentos de Cuba (veja o quadro abaixo).
As hortas urbanas de Cuba
A quantidade de alimentos produzidos pela agricultura urbana aumentou
de 40.000 toneladas em 1995
para 115.000 toneladas em 1998.
Em 1999 a agricultura urbana orgânica (principalmente em Havana) produziu:
65% de todo o arroz consumido no país
46% dos vegetais frescos
38% das frutas não cítricas
13% de raízes, tubérculos e bananas
6% dos ovos
Quase toda a produção desses sítios é orgânica, pois é proibido por lei usar agrotóxicos dentro dos limites da capital. Os agricultores urbanos também descobriram que os problemas com pragas diminuíram devido à grande diversidade das plantas cultivadas. "Estamos atingindo o equilíbrio biológico. As pragas estão sendo controladas pela presença constante de predadores no ecossistema. Quase não preciso aplicar qualquer substância para o controle", comenta o responsável por uma das hortas urbanas.
No campo, criaram bois para substituir os tratores que se tornaram inúteis devido à falta de combustível e de peças sobressalentes. O esterco é usado para fertilizar e para formar a estrutura do solo. Um sistema integrado de controle de pragas está sendo desenvolvido para substituir os pesticidas que não estão mais disponíveis.
Foram estabelecidos mais de 200 centros regionais para informar sobre o controle biológico de baixo custo para substituir os defensivos agrícolas. A broca da cana-de-açúcar é combatida com enxames de um tipo de mosca parasítica, a Lixophaga. As lagartas são combatidas por uma pequena vespa, a Tricograma, que se alimenta dos ovos das lagartas. Talos de bananeira são embebidos em mel para atrair formigas; estes talos são depois colocados nas plantações de batata-doce, onde as formigas controlam a broca da batata-doce — uma das grandes pragas.
Utilizando com sucesso técnicas orgânicas em todo país, Cuba virou a sabedoria convencional de cabeça para baixo. Mostrou que consegue alimentar sua população — neste caso 11 milhões de habitantes — sem precisar de produtos químicos caros. Mostrou, também, como a produção em pequena escala pode ser eficiente, com a maior produtividade vinda de várias hortas urbanas cultivadas pela população local. Trata-se de um estudo de caso muito importante para o debate sobre a possibilidade de alimentar o mundo com formas ecológicas de agricultura.
Por que agricultura orgânica?
Jean Claude Rodet
“Nenhuma atividade humana, nem mesmo a medicina,
tem tanta importância para a saúde quanto a agricultura.”
Pierre Delbet, Academia de Medicina, França
ESCOLHA ENTRE DUAS AGRICULTURAS
MÉTODO ORGÂNICO
MÉTODO QUÍMICO
Equilíbrio do solo
(vida microbiana — húmus)
Oligoelementos ativos
Erosão do solo
desaparecimento do húmus,
desequilíbrio mineral)
Resistência da planta
(diante dos parasitas)
Sensibilidade da planta
(diante dos parasitas)
Uso de pesticidas
Produto equilibrado
Produto desequilibrado
incapaz de manter a saúde
(resíduos de pesticidas — nitratos)
Respeito do equilíbrio
ecológico natural
Poluição ou deterioração
do meio ecológico
Este quadro, simplificado ao máximo, mostra a relação estreita que existe entre a agricultura e a saúde do consumidor. Hoje está comprovado cientificamente que o método de cultura determina a qualidade do solo; que o solo determina o equilíbrio da planta; que a planta, por sua vez, determina a qualidade do sangue do homem e do animal que dela se alimenta.
Os alimentos normalmente apresentados ao consumidor são muitas vezes desnaturados:
- por métodos de cultura (adubos, pesticidas);
- por métodos de criação dos animais (hormônios, vacinas, certos produtos veterinários nocivos);
- pela indústria alimentícia (refinação, aditivos, corantes, conservantes).
Para manter a saúde, cada indivíduo precisa de alimentos sadios, isentos de qualquer tipo de alteração.
Breves (agricultura orgânica)
Os animais preferem orgânicos
Pesquisas realizadas durante as décadas de 1980 e1990 mostraram que os animais distinguem perfeitamente entre produtos convencionais e produtos orgânicos. Ofereceram uma grande variedade de alimentos orgânicos e não orgânicos para coelhos, galinhas e ratos. Os animais, invariavelmente, deram preferência a hortaliças e cereais produzidos organicamente. (Gabriela Wyss., www.fibl.org)
Lesmas não gostam de alho
O biólogo Gordon Port, de Newcastle, informou a Associação Britânica de Avanço da Ciência que desenvolveram um produto ecológico a base de alho para evitar lesmas. Encontrando uma barreira de óleo de alho, as lesmas vão procurar outro lugar para pastar. Cruzar a linha provoca uma superprodução de muco que leva à desidratação e à morte. (Steve Connor, Independent 13.09.03 p 11)
Alimentação e meio ambiente
Somente, quando a freguesia mudar a sua escolha dos alimentos, será possível brecar a influência do lobby organizado pela indústria agro-alimentícia que procura ampliar a plantação de transgênicos e impedir a reconstrução ecológica da agricultura. (Umweltinstitut Müchen, Alemanha, www.umweltinstitutmüchen.org)
Água fria contra os ácaros
Contra os ácaros que atacam os morangos, podemos lançar um jato de água fria sobre o coração da planta. (Paco Nogales Garc ía. Alcalá de Henares, Madrid)
Resistência das plantas
Oito pesquisadores em Ohio, EUA, comprovaram aquilo que os agricultores orgânicos estão pregando há anos, isto é, as plantas que crescem em composto (matéria orgânica) desenvolvem enorme resistência a doenças. Como informa o boletim The Beginning Farmer, os pesquisadores compararam isso às medidas que aumentam a defesa imunológica no organismo humano. Os pesquisadores acham que o aumento dos níveis de matéria orgânica teria o mesmo efeito em plantações inteiras.
O ecossistema
Como exemplo simplificado de um ecossistema podemos observar a laranja. Uma pessoa come a laranja e joga a casca no lixo. Se este lixo for aproveitado como composto orgânico, vai fertilizar novos laranjais cujos frutos podem servir ao consumo humano.
Agricultura orgânica na Europa
Ampliação da área destinada à agricultura orgânica como percentual da área cultivada total entre 1993 e 2001
AT - Áustria, CH - Suíça, CZ - República Tcheca, DE - Alemanha, DK - Dinamarca, FI - Finlândia, IT - Itália, SE - Suécia e UK - Inglaterra
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Fonte: Hamm und Gronefeld, 2003, veja o site www.son-nenseite.de
Agricultura orgânica é mais
Nos EUA foram recentemente divulgados os estudos realizados durante 23 anos pelo Instituto de Ciências e Sociedade. No estudo foram comparadas diversas parcelas diferentes. Algumas parcelas eram de culturas orgânicas de ciclo vegetativo curto, outras eram de culturas orgânicas de ciclo vegetativo longo e outras ainda eram culturas com insumos químicos convencionais. Os resultados mostraram claramente que as culturas orgânicas s ão mais resistentes durante períodos de secas ou de inundações.
A (FNAB) Federação Nacional de Agricultura Biológica, explicou facilmente esse resultado. A agricultura orgânica enriquece o solo oferecendo maior estabilidade e, portanto, maior resistência em casos de variações climáticas. Além disso, a agricultura orgânica preconiza a diversificação, o que, em caso de pragas ou doenças, permite salvar grande parte da colheita. Finalmente, a agricultura orgânica respeita o ritmo das plantas e permite melhor adaptação às condições do meio. A FNAB enfatiza que os resultados da campanha agrícola em 2003, após o intenso calor no verão, mostraram que a agricultura orgânica é mais resistente. (Silence nº 308)
A compostagem fortalece as plantas
Pesquisadores em Ohio, EUA, comprovaram que as plantas cultivadas na horta usando compostagem (matéria altamente orgânica) torna as plantas super-resistentes a doenças. Eles acham que, ampliando a compostagem, obterão o mesmo efeito em toda a roça.
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